quinta-feira, 29 de novembro de 2012

La Belle Verte - The Green Beautiful (1996) (Leg. Pt)


Las hojas no caen, se sueltan


Sempre me pareceu espetacular a queda de uma folha.
Agora, no entanto, me dou conta que nenhuma folha "cai", se não que chegado o cenário do outono inicia a dança maravilhosa de soltar-se.
Cada folha que se solta é um convite ao desprendimento.
As folhas não caem, se desprendem em um gesto supremo de generosidade e profundo de sabedoria:
a folha que não se aferra ao ramo e se lança ao vazio do ar
sabe o som profundo de uma vida que está sempre em movimento
e em atitude de renovação.
A folha que se solta compreende e aceita que o espaço vazio
deixado por ela
é a matriz generosa que abrigará o broto de uma nova folha.
A coreografia das folhas soltando-se e abandonando-se
à sinfonia do vento
traça um indizível canto de liberdade e supõe uma interpelação
constante e contundente
para todas e cada uma das árvores humanas que somos nós.
Cada folha ao ar que me está sussurrando ao ouvido da alma
solta-te! entrega-te! abandona-te! confia!
Cada folha que se desata fica unida invisível e sutilmente
à brisa de sua própria entrega e liberdade.
Com este gesto a folha realiza seu mais impressionante movimento
de criatividade
já que com ele está gestando o irromper de uma próxima primavera.
Reconheço e confesso publicamente,
perante este público de folhas movendo-se ao compasso do ar da manhã,
que sou uma árvore ao qual custa-lhe soltar muitas de suas folhas.
Tenho medo diante da incerteza de um novo broto.
Me sinto tão cômoda e segura com estas folhas previsíveis,
com estes hábitos perenes,
com estas condutas focadas, com estes pensamentos enraizados,
com este entorno já conhecido...
Quero, neste tempo, somar-me a essa sabedoria,
generosidade e beleza das folhas que "se deixam cair".
Quero lançar-me a este abismo otonal que me submerge
em um autêntico espaço de fé,
confiança, esplendor e doação.
Sei que quando sou eu que me solto, desde minha própria
consciência e liberdade,
o deprender do ramo é muito menos doloroso e mais bonito.
Somente as folhas que resistem, que negam o óbvio,
terão que ser arrancadas por um vento muito mais
agressivo e impetuoso
e cairão ao chão pelo peso de sua própria dor.
 
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Ler o texto em español:
 
Las hojas no caen, se sueltan.

 
Texto original de José María Toro,

extraído del libro "La Sabiduría de Vivir"

(2ª ed.) EDITORIAL DESCLÉE, páginas 37 y 38.